O Investimento

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8 outubro 2017, Comentários 0

Procuramos neste texto entender os desafios do investidor em geral e as relações existentes entre os ambientes real e financeiro da economia e seus reflexos sobre a criação de riqueza e sobre a qualidade de vida da sociedade.

Quais são os aspectos que tornam um ambiente mais atraente ao investimento? Como aumentar a propensão ao investimento de um indivíduo que toma decisões com base em expectativas de retorno e percepções de risco? Quais conceitos contribuem para um melhor entendimento dos desafios do investidor?

Prof Ivando, E-mail

Ivando Silva de Faria

Ivando Silva de Faria

Doutor em Economia pela Universidade Federal Fluminense


O Investimento
Investir, segundo o dicionário do Aurélio, significa atacar, acometer, empregar capitais e atirar-se impetuosamente contra alguma coisa. O investidor em uma economia moderna é aquele que financia projetos que geram empregos, renda e produtos causando alterações no bem-estar da sociedade; é também aquele que gera desenvolvimento ao investir em projetos incipientes e em novas tecnologias.

Um especulador, por sua vez, é aquele que aposta em projetos na expectativa de que darão certo e lhe propiciarão retornos financeiros atraentes; é um bandeirante, um desbravador.

Seguindo a teoria econômica, o agente econômico é um ser auto interessado e insaciável dotado de um espírito animal que visa a conquista de melhores condições próprias de vida, sendo satisfeito pelo retorno positivo sobre o capital investido. O seu grande adversário é o risco, a incerteza, ou seja, a falta de domínio sobre os fatos que ocorrerão no futuro. Seu maior mérito é a capacidade de lidar com riscos e incertezas (aceitar perder seu dinheiro) e seu maior demérito a insaciabilidade (não ter limites para acumular riquezas).

O investidor, no âmbito das finanças tradicionais, verifica exclusivamente se a relação percebida entre o retorno e o risco do investimento é satisfatória. Suas decisões são tomadas em contexto abstrato, imaginativo e com certo grau de intangibilidade. Decide confrontando expectativas de retorno e percepções de risco de natureza diversa.

No século XXI tem se disseminado gradativamente a ideia das finanças sustentáveis, conhecida como a finanças dos 3 Ps, (people, planet and profit). Ao adicionar preocupações sociais e ambientais às suas decisões tornar-se-ia um ser menos insaciável, mais moderado e mais equilibrado.


Ambiente Real e Ambiente Financeiro
O investidor do ambiente financeiro da economia, investe em títulos de crédito (papéis) que financiam projetos no ambiente real da economia. O investidor do ambiente real da economia investe em máquinas, prédios, caminhões, plataformas de petróleo, altos-fornos de siderúrgicas, enfim, investe em ativos reais. Sendo assim, o investidor pode ter como alvo duas alternativas para investir, em ativos reais ou financeiros. É importante perceber a complementaridade do ambiente real e do ambiente financeiro da economia.

Os recursos que faltam no lado real da economia são obtidos por meio de crédito ou participações do lado financeiro. O lado financeiro financia o lado real. Há ainda algumas diferenças significativas entre os ambientes financeiro e real da economia. O ambiente real realiza investimentos com horizonte temporal de médio e longo prazos e lida com ativos de baixa liquidez (difíceis de se transformar em moeda).

Os investimentos no ambiente real também exigem montantes maiores de recursos. A aposta, a especulação, o investimento neste ambiente é mais arriscado pois nele o desinvestimento é mais difícil. O ambiente financeiro permite investimentos de curtíssimo, curto, médio e longo prazos e contam com os mercados financeiros para a negociação dos investimentos realizados. Tais mercados, Bolsas de Valores, Mercado Aberto, Mercado Interbancário, dentre outros, facilitam o desinvestimento e, assim, reduzem o risco de liquidez, ou seja, a dificuldade de se transformar o ativo financeiro em moeda.

Outro aspecto relevante a se ter em consideração: o ambiente real da economia é o grande gerador de empregos e produtos para a sociedade. Portanto, simplificando, o ambiente financeiro financia os investimentos no ambiente real, que por sua vez gera os empregos e produtos para a sociedade. Um motor de geração de riquezas. A força do motor depende da capacidade de se atrair os investimentos, o combustível.


O Investidor
Procuramos neste texto entender os desafios do investidor em geral e as relações existentes entre os ambientes real e financeiro da economia e seus reflexos sobre a criação de riqueza e sobre a qualidade de vida da sociedade.

O investimento é algo positivo para a sociedade em geral. Quais são os aspectos que tornam um ambiente mais atraente ao investimento? Como aumentar a propensão ao investimento de um indivíduo que toma decisões com base em expectativas de retorno e percepções de risco? Quais conceitos contribuem para um melhor entendimento dos desafios do investidor? A assimetria informacional talvez seja o conceito mais abrangente.

A venda de um carro usado é um bom exemplo de negócio realizado sob a assimetria informacional. Quem está vendendo o carro tem, obviamente, muito mais conhecimento do valor justo para o negócio, mas em geral vai fornecer informações que levem o carro a ter um valor acima do justo. Por outro lado, o comprador quer pagar o mínimo possível pelo carro, e assim ambos negociam por um preço que pareça justo. A falta de informação adequada pode levar um dos lados a realizar um mal negócio. Na área de crédito o mesmo se passa.

Quem precisa de dinheiro emprestado, geralmente um empresário no lado real da economia ou o governo, tendem a contar uma história atraente que leve o cedente dos recursos a formar expectativas positivas para conseguir obter os recursos a baixo custo. Caberá sempre aos compradores e investidores do ambiente financeiro da economia verificar a veracidade e qualidade da informação prestada.

Deste embate, surge o conceito de risco de crédito (o risco de se acreditar em alguém). O mercado financeiro é repleto de áreas e pessoas especialistas em análise de crédito, atuam como redutores da assimetria informacional. Atuam em defesa dos investidores do ambiente financeiro, avaliando as reais perspectivas de pagamento dos recursos obtidos para financiamento de projetos no ambiente real.


O Risco Econômico
As agências de rating buscam alertar às UES dos riscos de acreditar e ceder recursos para determinada UED. O mundo ocidental moderno se caracteriza pela fácil mobilidade do capital e pela tendência à globalização dos investimentos. Um fator auxilia o outro e a telemática formaliza a velocidade de fechamento de negócios e de difusão da informação.

As crises do mundo dos negócios têm sido mais agudas e frequentes o que torna o investidor mais conservador, mais avesso aos riscos. A apetência por investimentos de baixo risco e baixo retorno é alta. Grandes empresas financeiras, especializadas em administrar recursos das UES, concentram volumes suntuosos de recursos e usufruem de estruturas técnica e tecnologicamente excelentes para obter os melhores resultados dos recursos cedidos, investidos.

A seleção dos projetos a serem investidos obedecem a critérios rigorosos que almejam proteger o capital investido. O investidor financeiro hoje é mais preocupado em não perder do que em ganhar, aliás, quanto mais riqueza se acumula maior a tendência de haver uma maior preocupação com perdas do que com ganhos. Sendo assim, o grande capital, oriundo de bancos de investimentos, fundos de pensão, companhias de seguros, fundos de investimentos diversos, é avesso ao risco (loss aversion), conservador.

Não há muito capital a ser oferecido a contextos dos quais se tenha uma percepção de risco alto. Falando de investimentos de uma forma mais pragmática, o retorno do investidor é fruto dos fluxos de caixa futuros projetados e o risco do investidor é a diferença potencial entre o fluxo de caixa que foi projetado e o fluxo de caixa que se realizou. Quanto maiores as instabilidades, quanto mais deficientes as informações prestadas, maior é a percepção de risco. Turbulências geram incertezas, falta de transparência (opacidade), maior dificuldade de se prever os fluxos de caixa futuros e maior diferença potencial entre o fluxo de caixa projetado e o realizado.

A previsibilidade é íntima da constância e das mudanças suaves, e é construída pela transparência e comunicação eficientes.

A divulgação de balanços pelas empresas e de dados sobre a gestão governamental asfaltam o caminho da previsibilidade. Clareza nas políticas monetária, fiscal e cambial também contribuem para a previsibilidade. Políticas econômicas bem definidas e com informações sobre intenções de médio e longo prazos, mostram respeito pela formação de expectativas dos investidores. São sensíveis aos desafios do desembolso de recursos baseados em algo pouco tangível e imaginário, como as expectativas de fluxos de caixa futuros.

No que tange às empresas, estratégias inovadoras, lançamento de novos produtos, políticas de preços e condições perante a concorrência permitem uma melhor avaliação do acerto do investimento. Neste contexto não podemos esquecer da ameaça da assimetria informacional em prol da geração de riqueza de um agente econômico auto interessado e insaciável.

Volatilidades de taxas de juros, taxas de câmbio, preços (inflação) e PIB (indicador do crescimento econômico) são fatores que inibem investimentos, pois reduzem a previsibilidade, o risco econômico, um risco objetivo quantificável matematicamente.

Acrescente-se ao risco econômico alguns riscos subjetivos e teremos o universo de incertezas com que convive o investidor em geral. O risco moral, exemplificado pelos níveis de corrupção. O risco legal, caracterizado pela quebra de contratos e pela demora da justiça em solucionar litígios. O risco político, causado pela propensão de se assumir regimes totalitários, anticapitalistas (não respeitam o direito de propriedade) e que rompam com os preceitos democráticos.

A sistemática de construção da previsibilidade, começa nos comunicados e sinalizações do governo e dos empresários. Sinalizações são informações dadas ao mercado com o intuito de promover uma boa formação de expectativas. Intenções das políticas monetária, fiscal e cambial, dentre outras, são importantes para auxiliar a tomada de decisões de investimentos dos agentes econômicos.

A emissão do comunicado ou sinalização envolve pôr em jogo a credibilidade e reputação do agente econômico que o emitiu. Caso a sinalização se revele correta no futuro, tal fato aumenta a credibilidade e reputação do sinalizador, caso contrário, reduz.

Os agentes econômicos que atuam nos mais altos níveis decisórios devem ao longo do exercício de suas funções serem capazes de conquistar muita credibilidade e reputação. Esta conquista é determinante de sua governabilidade ou gestão. Líderes com muita credibilidade e reputação são capazes de mover expectativas e gerar investimentos, somente com palavras. São pessoas confiáveis em quem os investidores podem se escorar no difícil processo de tomada de decisão com base em expectativas de retorno e percepções de risco.

Uma engrenagem formada por baixa assimetria informacional (transparência) e muitas sinalizações corretas, facilita a formação de expectativas. Em um contexto de mercado composto por agentes econômicos auto interessados e insaciáveis, produz uma alocação eficientes dos (escassos) recursos da economia. A alocação eficiente produz uma maior geração de riqueza, de empregos e de produtos. Ademais, se as políticas em geral adotadas geram baixas volatilidade de juros, taxa de câmbio e preços (inflação) e ainda baixos riscos subjetivos (político, moral e legal) teremos uma baixa percepção de risco e boa previsibilidade.

Temos assim o ambiente adequado à atração do investimento. Desta forma, temos um breve resumo dos fatores que podem contribuir para que o país e suas empresas sejam mais atraentes ao investimento de capital. Devemos atribuir a relevância adequada à capacidade de atração do investimento. O investimento é o sangue que irriga toda a economia e mantém os órgãos saudáveis, em desenvolvimento e suporta o crescimento sustentado. Aceitar políticas que afetam o investimento por razões quaisquer é comprar um futuro sem prosperidade.


Resumo
  • O ambiente financeiro financia o ambiente real. O ambiente real gera o desenvolvimento e crescimento da economia, gera empregos e produtos.
  • O investidor do ambiente financeiro sob assimetria informacional corre o risco de crédito, podendo chegar a perder todo os recursos investidos caso não esteja bem informado.
  • A informação, se torna neste contexto algo valioso no mundo dos negócios. Empresas como a Reuters, Bloomberg, CMA dentre outras têm como produto a informação especializada para todos os setores da economia.
  • As agências de Rating avaliam o risco de crédito, ou seja, a capacidade de pagamento do investidor do ambiente real da economia (UED, Unidade Econômica Deficitária), atua defendendo os interesses do investidor do ambiente financeiro da economia (UES, Unidade Econômica Superavitária).

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